‘Remorso desgraçado’, diz funcionário da Voepass que omitiu falha em avião por ordem de superior – País

Em uma conversa entre dois funcionários da manutenção da Voepass, um deles afirmou estar com um “remorso desgraçado” por não ter formalizado uma falha no turbo-hélice ATR 72-500 de prefixo PS-VPB, aeronave que caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, há quase um ano, no dia 9 de agosto de 2024. “Eu não tô conseguindo dormir desde isso aí… Errei, errei de não ter mandado por escrito”, disse ele, sem saber que os colegas estavam sendo gravados.
De acordo com o áudio, a ordem de não . “Eu não tinha mais o que fazer. Tipo assim, foge do meu cargo, foge da minha autoridade, de tudo”, continua o profissional. O áudio foi gravado um mês após o acidente que vitimou todas as 62 pessoas a bordo. Obtido com pelo Fantástico, da TV Globo, ele foi exibido neste domingo (3).
No áudio gravado em setembro de 2024, o outro profissional aconselha o colega a gravar e guardar provas para possível investigação. “É uma sujeira que eu fico, cada dia que passa, mais enojado com isso aqui”, diz ele.
Um ex-funcionário ouvido com exclusividade pelo g1 disse que o piloto que havia realizado o último voo com a aeronave antes da queda tinha relatado falha no sistema de degelo. A informação foi divulgada no último sábado (2).
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O problema deveria ter sido suficiente para impedir a nova decolagem, mas não foi registrado oficialmente no diário de bordo técnico. A testemunha, que ouviu o relato do comandante, afirma que o sistema de degelo estava “desligando sozinho”.
Apesar de ter sido reportado verbalmente ao time de manutenção do avião, em Ribeirão Preto, a liderança ignorou o alerta e autorizou a aeronave a seguir com os voos previstos.
Segundo informações do g1, a queixa não foi registrada oficialmente porque os funcionários trabalhavam sob pressão da diretoria da empresa para evitar que aeronaves ficassem paradas para manutenção. Sem o registro no diário de bordo técnico, os mecânicos não tinham autonomia para corrigir a falha.
“Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha. Só que, no dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe. Foi alegado que ela tinha apresentado o airframe [fault] durante o voo. Estava desarmando sozinha. Coisa que não poderia acontecer“, contou o ex-funcionário na entrevista.
Pelas informações da caixa-preta, é possível saber que o botão do sistema de degelo da aeronave foi acionado três vezes durante o voo, entre a decolagem em Cascavel e a queda em Vinhedo.
O ex-funcionário acredita que a tragédia teria sido evitada se o problema tivesse sido reportado formalmente. no diário de bordo.
“Falhas graves e persistentes”
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) acompanha os desdobramentos das investigações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) desde agosto de 2024.
No último 24 de junho, a Agência cassou o Certificado de Operador Aéreo da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa da companhia Voepass.
A decisão foi tomada após o órgão identificar “falhas graves e persistentes no Sistema de Análise e Supervisão Continuada” do grupo. As operações da empresa já haviam sido suspensas no início de 2025.
Contudo, até aquele momento, mesmo após a tragédia em Vinhedo, a Voepass ainda operou 2,6 mil voos com aeronaves sem manutenção adequada e sem condições de navegar.