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‘Muito compromisso e engajamento’ — Brasil de Fato

Na noite desta segunda-feira (27), a equipe do documentário “Território em Fluxo”, uma produção do Brasil de Fatoesteve no teatro Tucarena, em São Paulo (SP), para a cerimônia de premiação do 47º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (PVH). Trata-se do mais importante reconhecimento do jornalismo brasileiro.

A sério documental, vencedora na categoria Vídeo, está organizada em cinco episódios e disponível no canal do Youtube do Brasil de Fato.

Nina Fideles, diretora executiva do Brasil de Fatocelebrou o reconhecimento, que “rememora os porquês de se produzir jornalismo”. “É uma escolha diária (…) permeada de muita paixão, de muita indignação, de muita vontade de contar história, muita conexão com a verdade, muito compromisso e engajamento”, disse, ao receber o troféu.

Fruto de nove meses de apuração, a série busca romper com abordagens estigmatizantes sobre o território, conhecido como Cracolândia, a partir da perspectiva do cuidado e do direito à cidade. São cinco episódios — O Fluxo, Moradia, Segurança Pública, Saúde e Cuidado, Arte e Cultura — que abordam práticas cotidianas de resistência e alternativas à política de guerra às drogas e traz vozes de quem vive e atua no local.

“Me inspiro nas histórias hoje compartilhadas”, finalizou Fideles. “Obrigada pela resistência, obrigada pelo posicionamento. Agradeço a todos vocês, não só aos jornalistas, mas todo mundo que sofreu os crimes do estado e outras violências que a gente busca denunciar”, disse.

‘A gente percebeu que existia muita vida ali’

Antes da cerimônia de premiação, representantes dos projetos premiados participaram da 14ª Roda de Conversa com os vencedores, um espaço para que os convidados falassem sobre os bastidores dos trabalhos. O momento é, de acordo com o Instituto Vladimir Herzog, uma iniciativa pioneira na história de um concurso jornalístico no Brasil.

Na conversa, a jornalista do Brasil de Fato Beatriz Drague Ramos, da equipe da série “Território em Fluxo”, falou sobre o início das pesquisas da chamada Cracolândia.

“A gente queria entender melhor como estava funcionando em relação à política de redução de danos que havia sido extinta em 2017, pelo Dória”, conta. “Queríamos entender pra onde tinha ido essa política de redução de danos e nos deparamos com o trabalho dos coletivos, que estão ali diariamente fornecendo afeto às pessoas, e a gente entendeu que eles estão fazendo um trabalho de redução de danos que havia sido extinto pelo governador João Dória”, diz.

Antes de iniciar as gravações, a equipe do BdF passou cerca de dois meses acompanhando a atuação desses coletivos e se aproximando dos futuros entrevistados.

“A gente queria entender como é que aquelas pessoas foram parar ali, porque elas estavam ali e porque aquele território passou a ser marginalizado (…) A gente percebeu que existe muita vida ali, muito por conta dessas pessoas que estão ali diariamente, procurando olhar para a humanidade dessas pessoas”, conta Ramos.

“Território em Fluxo” concorreu ao prêmio com “Cuidados Paliativos: vida até o último dia de vida”, do Fantástico e TV Globoe “Mães de luta”, da TV Brasil.

Democracia e direitos humanos

Na cerimônia de premiação, Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, jornalista assassinado na ditadura militar, ressaltou a importância do jornalismo na defesa da democracia e dos direitos humanos. “É o poder que fiscaliza os outros três poderes, é o poder que permite que uma nação continue soberana, continue democrática, e que respeite os seus cidadãos e que trate os seus cidadãos com dignidade”, disse.

Neste ano, o Prêmio recebeu 485 inscrições, das quais 168 em texto; 58 em vídeo; 26 em áudio; 39 em multimídia; 40 em fotografia, 18 em arte e 168 em livro-reportagem. Um grupo de 58 convidados integrou o Júri responsável por selecionar os finalistas. Em Sessão Pública de Julgamento realizada no último dia 7 de outubro, a Comissão Organizadora elegeu os vencedores nas oito categorias de premiação.

Para marcar os 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog, patrono do certame, os organizadores instituiram uma nova categoria de premiação – Defesa da Democracia. O objetivo é destacar pautas sobre a política nacional, ataques ao Estado Democrático de Direito e formas com que as instituições brasileiras, em todas as esferas, estão atuando na defesa de nossa democracia. Foram 120 produções jornalísticas inscritas.

Sobre o prêmio

Criado em 1979, o Prêmio homenageia o jornalista morto pela ditadura civil-militar em 25 de outubro de 1975, nas dependências do DOI-CODI, em São Paulo. Desde então, reconhece produções jornalísticas que contribuam com a promoção dos direitos humanos fundamentais.

A premiação passou a ser organizada, a partir de 2023, pelo Instituto Prêmio Vladimir Herzog, entidade fundada em novembro de 2022. A instituição é formada por 18 organizações da sociedade civil e pela família Herzog, e conta com apoio de universidades, coletivos, sindicatos e outras entidades.

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